Que a cantiga é uma arma, já sabemos. O 25 de Abril provou-o, se mais dúvidas houvesse. Antes disso, também o foi. E continua a sê-lo. O risco que se corre, agora, é o de gastar todas as munições a disparar para o ar. De repente, a “Grândola Vila Morena” está na moda, como expressão de indignação. Não questionando a pertinência da indignação, nem tão pouco a pertinência da escolha da canção, é paradoxal que se procure de novo Zeca Afonso, depois de o país nada ter feito para que morresse de uma forma mais digna. Num documentário recente, ficámos a saber que José Afonso morreu praticamente esquecido por muitos dos que deviam tê-lo amparado. Houve, inclusive, colegas espanhóis que se empenharam na ajuda ao músico português, quando o país que ele ajudou a libertar lhe virava as costas. São curiosos estes paradoxos.