Lê-se no «Público» de hoje uma crítica demolidora ao mais recente disco de Rui Massena. Ainda que aos holofotes televisivos muita da controvérsia em torno da sua carreira vá passando despercebida, pelo menos aquela criticazinha típica do meio (musical, como de qualquer outro), do género «destruir o que o outro faz para valorizar um bocadinho o que eu faço», o que é certo é que Rui Massena fez. Melhor, pior, é discutível, como qualquer situação que envolva opiniões. Notabilizou-se na Orquestra Clássica da Madeira. Compôs ou fez arranjos para orquestra com vista a ter concertos que «descomplicassem» a música erudita. Esteve na Capital Europeia da Cultura em Guimarães. E agora, teve a coragem de lançar um disco a solo. Independentemente da razão ou do coração, dá para pensar se não será mais um dos casos em que se é «preso por ter cão e preso por não ter». E aproveitar um trabalho discográfico para alargar a crítica (velada) a outros aspectos (com razão? sem razão?), não parece lá muito correcto.
“O jovem maestro Rui Massena acabou de lançar o seu primeiro disco, Solo. Que foi imediatamente arrasado por um dos críticos de música do jornal Público, neste caso Pedro Boléo.
Não tenho problema com a independência crítica de textos assinados. O que me chateia como leitor é a forma pessoal como o jornalista trata o seu texto. Há ali uma espécie de humilhação pública que roça o insulto intelectual. Uma vez que a maioria de nós ainda não ouviu o disco, a ideia que fica é má para todas as partes envolvidas – incluíndo o autor do texto.
Rui Massena é um alvo a abater em Portugal. Porque aparece na televisão, porque é popular, porque tem o cabelo desgrenhado, porque tem cabelo, porque tem um ar louco e porque o Vitorino d’Almeida ainda está vivo. Mas acima de tudo, Massena é desdenhado pelos intelectuais porque a música clássica ou “erudita” é uma coisa séria e não se pode brincar com o assunto (coisa que Massena faz bem).
O que se torna desagradável no texto de Boléo é a forma como uma análise honesta vai sendo inquinada pela necessidade de expôr. Bastava um editor ali retirar quatro ou cinco lapsos de gosto, e o texto passaria facilmente por manifesto independente bem argumentado. Frases com diminutivos como “então vamos lá ouvir o disco e ler o livrinho”, “música de centro comercial”, “presunção e água benta” ou “regresso às amelices do cinema” revelam algum nojo para com o que devia apenas ser visto como um simples disco de formação.
Dou razão ao crítico que se arrelia com a necessidade de Massena explicar o seu trabalho (através do tal “livrinho” com nota de intenções). Mas se o tal “livrinho” é também a âncora do texto e argumentação do crítico, não seremos todos um pouco mais académicos do que pensamos?” Miguel Somsen