O senhor Mário não morreu. Pessoas como o senhor Mário não morrem. Nunca. E não morrem, porque deixam um legado. Forte. Vincado. Duradouro. O senhor Mário vai viver sempre, enquanto alguém vivo se lembrar da história e da vida do Grupo Coral de Urrô. O senhor Mário vai viver sempre, enquanto alguém vivo se lembrar dos passeios e excursões que organizava, do entusiasmo com que nos convidava, do detalhe com que nos guiava. O Senhor Mário vai viver sempre.
Conheci o senhor Mário ainda na minha adolescência. O seu filho, José Teixeira, que também já nos pregou a partida de deixar-nos, convidou-me para tocar com o Grupo Coral, em algumas celebrações, durante o verão. Passei a colaborar mais regularmente, e não resisti, algum tempo mais tarde, a trabalhar regularmente com o Grupo. Porque o senhor Mário é uma força da natureza. Um líder, no melhor dos sentidos. Era fácil segui-lo, porque, antes de liderar, cativava. E ele sabia cativar. E, depois de cativar, sabia cuidar. Por isso, não era difícil sermos amigos. Eu, como muitos.
O senhor Mário é música. Todo ele. Da sua voz cheia, sairam muitas das obras que ouvimos pela primeira vez, e ouvíamo-lo, ao detalhe, até sermos nós, todos, juntos, a fazer a música que ele tinha na cabeça, que ele tinha estudado ao pormenor, que o compositor queria que fizéssemos. O seu amor pela música, a sua devoção e a sua liderança fizeram dele um verdadeiro dinamizador local, da música litúrgica em particular, mas de toda a boa música. Porque ele conhecia (e muito bem) e amava (muito) a boa música. Arrisco dizer que, neste particular, nesta dinâmica de não deixar nada parado, o senhor Mário está para Arouca como o Cónego Ferreira dos Santos está para a diocese do Porto.
Há pessoas que, não importa por que motivo, se cruzam connosco, a determinada altura, e nos ajudam a fazer opções. O senhor Mário foi uma dessas pessoas. Aliás, era-o de forma natural, porque a paixão com que falava de música era mais do que suficiente para convencer qualquer um a gostar de música, a querer fazer música. E mesmo quando alguns tentaram, por querer ou sem querer, abalar este vínculo, ele, apesar de tudo, não deixou. Porque havia uma amizade muito mais profunda que nos unia. E foi ela que prevaleceu.
Divertimo-nos muito à mesa. A mesa, no Pinheiral, é sempre grande. Porque a família é grande, e os amigos, ali, são da família. Rimos muito. Partilhámos histórias. Lembrámos amigos. Enfim. Chegámos a ter um almoço combinado, mas outra partida, na altura do meu lado, não nos permitiu. De resto, o senhor Mário esteve sempre, sempre, ao meu lado, nos momentos mais difíceis. Da mesma forma que sempre acompanhou o meu percurso profissional, e sempre me encorajou, fossem quais fossem as minhas opções. O senhor Mário é assim.
Hoje, quando dizia ao seu filho António que não tinha palavras para dar-lhe, que a única vontade que tinha era de poder estar lá, e dar-lhe, a ele como a toda a família, o meu abraço, foi ele quem teve as palavras mais certeiras. Agora, é preciso continuar o que alguém começou. Porque o senhor Mário não morreu.
Hoje, o meu amigo José Carlos Silva, director do jornal ‘Roda Viva’, pediu-me que escrevesse umas linhas sobre o senhor Mário Teixeira. Pensei, de imediato, que uma vida como a do senhor Mário não cabe nas minhas linhas, nem tão pouco nas minhas palavras. O resultado do texto, foi este. Publicado, ainda hoje, nas páginas redes sociais do jornal, sairá em papel, na próxima edição do jornal.
Realmente! Há pessoas que se manterão eternas … quer em nós, quer nos feitos que tiveram . Causas que abraçaram. Partem, mas ao mesmo tempo, permanecem vivas nas pequenas grandes coisas…🙌