Há dias em que queremos ser tudo, como as crianças que fazem birra quando vêem algo que desejam e que tem de lhes ser dado quase antes mesmo de o quererem. Eu gostava de ter a facilidade de compor uma sinfonia, ou várias. De poder fazer tudo o que quisesse à frente de uma orquestra. Mas gostava também de ser um fabuloso jogador de futebol, e de basquetebol também, e hóquei, já agora. Gostava de correr mais depressa que o Usain Bolt. Nadar melhor que o Phelps. Conduzir mais depressa que o Ayrton Senna conduziria, com mais perícia que qualquer piloto de rali. Mas queria também saber de mecânica e de ciência mais do que qualquer super-engenheiro ou mesmo que o Stephen Hawking. De ser mais culto que qualquer comentador. De perceber mais de política que o Presidente da República. Eu gostava de ser tudo. Talvez para chegar à conclusão que é melhor não ser nada, e limitar-me a fazer um trabalho rotineiro e fácil, para fechar a porta quando fosse para casa. E, não sendo nada, poder, aí, ser tudo.