O Inverno chegou. Veio instável, como é seu hábito. Veio alteroso. Veio com pressa. Com pressa de chegar. Com pressa de ficar. Não veio como o Inverno de Eugénio de Andrade. Aquele Inverno que vinha arrastado pelo Outono, o mesmo que os antigos previam que fizesse com que «dos Santos ao Natal, um saltinho de pardal». Agora, o tempo é escasso, e tudo acontece mais depressa. Por certo, uma borboleta bateu as assas, de flor em flor, algures do outro lado do mundo. E o Inverno veio logo, apressado, com a rapidez que nos caracteriza. Nem para o caminhar pastoso das estações do ano há tempo. Tudo acontece com pressa. Até a chegada do Inverno.
O Inverno | Eugénio de Andrade
Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.
Vem de sobretudo,
Vem de cachecol,
O chão onde passa
Parece um lençol.
Esqueceu as luvas
Perto do fogão:
Quando as procurou,
Roubara-as um cão.
Com medo do frio
Encosta-se a nós:
Dai-lhe café quente
Senão perde a voz.
Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.