Ao reencontrar o mar, vem-me de imediato à memória a letra e a música de Fausto Bordalo Dias. «O mar». A visão da imensidão do oceano, que os portugueses conseguiram domesticar, a calmaria de um fim de tarde de maré vaza, mandando embora a ténue neblina que insistia em apenas povoar, temporariamente, aquela praia. Veio o sol, como que a fazer-me despedir das férias. É tempo de regressar, sabendo, todavia, que o mar vai sempre continuar aqui. O sol, a brisa, o mar. À espera de um regresso. Enquanto continuam a ecoar os sons do mar de Fausto Bordalo Dias.
O Mar
(Fausto Bordalo Dias)E todo o mar se cobriu de infinitas riquezas
de anil e sedas e jóias e de odoríferas drogas
de si deitava nas praias moscatéis e licores
adoçando de sua bravura
o mar
nas margens adamascadas andam náufragos dispersos
mariscando lagostas ostras choupas taínhas
e bebem vinhos distintos de singulares aromas
se anda ao longo da costa em ofertas
o marE entregou Leonor
seus cabelos aos ventos
na quietude tão só
tão ausente de tudo
e mais quieta era a luz
no sossego das águas
e uma música escorre dos céus
devagarE fazem tendas de aduelas de alcatifas majestosas
de outras peças de ouro e prata de cambraias e cetins
cobertas de colchas vermelhas de rosários de cristal
mas mais garrido do que toda aquela praia
o mar
e fazem velas das camisas e outras de damasco verde
as amarras de outros panos de veludo carmesim
de um remo fizeram o mastro
e a enxárcia de uma linha
e tão docemente embala este batel
o marSe todo o mar se cobriu de infinitas riquezas