Ouço hoje, com muito interesse, o espaço de opinião de Daniel Oliveira na TSF. Lembrando algo que raramente ou nunca se lembra, mas que , certamente, todos estamos a sentir na pele, mais ou menos, com consequências mais ou menos complicadas. Os portugueses estão a sair de casa, estão a ‘furar’ o confinamento. Mais do que irresponsabilidade, este é um sinal de que a pandemia está a mexer com a dimensão psicológica e social de cada um de nós. Muitos de nós, vivemos com medo há mais de um ano. É muito tempo. Demasiado. Ao mesmo tempo, tornou-se banal falarem-nos de mortes, muitas. De internamentos, muitos. E, progressivamente, as vítimas desta pandemia deixaram de ser pessoas, famílias, comunidades, e passaram a ser meros números, muitas vezes sem um funeral com os ritos apropriados. Sabemos todos que os profissionais de saúde estão a trabalhar para além dos seus limites. Sabemos todos que é muito difícil tomar decisões políticas em cima deste caos e desta incerteza permanentes. Mas também sabemos que é muito mais fácil responsabilizar-nos, colectivamente, pelo que corre pior, para que não repitamos erros, nem, com isso, pioremos a situação. O que ninguém pensou foi que, para além de todos os comentadores, com as medidas certas à mão, para fornecerem a quem precisar, para além médicos especialistas em vírus, pandemias e cuidados intensivos, para nos falarem dos aspectos científicos e do impacto na saúde de todos, talvez fosse preciso também termos gente a falar sobre como contornar os terríveis impactos psicológicos e sociais que tudo isto teve, tem e terá.