Lanço-me à leitura do livro de crónicas do Maestro José Atalaya, onde, rapidamente, nos damos conta de como temos memória curta. Não há muito tempo, Portugal pura e simplesmente extinguiu as suas orquestras, acto que acabou por dar muito trabalho a quem foi juntando as peças, reconstruindo e criando bases para o que hoje temos. E lembro-me de como, há também não muito tempo, numa conversa pública, ao usar a palavra proibida (‘mercado’) quase ganhei lugar no Gólgota, bem ao lado de Cristo na cruz, talvez até mesmo no lugar do mau ladrão. Acontece que, hoje, sob o manto da pandemia, está provado que a Cultura não funciona sem mercado. O Estado, o Ministério da Cultura (existe?), as entidades oficiais vão lançando migalhas aos pombos, ao mesmo tempo que, quem consegue, vai tentando novas formas de levar as artes performativas ao público, através de plataformas on-line, das redes sociais, de um sem número de soluções, que outra coisa não fazem senão voltar (timidamente) a pôr o mercado a funcionar. O tempo passa, as medidas políticas continuam a ser insuficientes, a situação vai tornando o grau de insustentabilidade cada vez maior. E o óbvio continua a ser a palavra de ordem: sem público, não pode haver cultura. Tal e qual foi provado pelo Maestro José Atalaya, nas suas inúmeras intervenções. O que é isto senão uma manifestação de que é preciso haver mercado?