São enormes as possibilidades de, no Outono deste ano, termos um ‘déjà vu’. As eleições presidenciais serão, certamente, um passeio para Marcelo Rebelo de Sousa, e é relativamente grande a expectativa para percebermos como se vão comportar os candidatos de esquerda, para não falar no fenómeno André Ventura. Ana Gomes tentou segurar o seu eleitorado, e até mesmo entrar no eleitorado descontente com Marcelo, ao colar o actual Presidente a Ricardo Salgado. Este movimento (pouco) estratégico de Ana Gomes foi um verdadeiro ‘tiro no pé’, porque, de resto, a candidata já tinha sido vítima do mesmo tipo de ataque, com André Ventura a trazer a lume a relação próxima da candidata com Paulo Pedroso (seu director de campanha). Marisa Matias, tem estado completamente apagada. João Ferreira é uma espécie de lufada de ar fresco vinda das hostes comunistas, mas longe de poder causar estragos. Tiago Mayan é um candidato aparentemente interessante, mas os portugueses ainda não lidam bem com o epíteto ‘liberal’. Vitorino Silva, igual a si próprio, procura ser uma voz do povo, sem descolar do popularucho. E André Ventura vai conseguindo o que quer: que se fale dele, bem ou mal.
Lá para Setembro ou Outubro, teremos eleições autárquicas. E em Arouca, aparentemente, acontecerá mais ou menos o mesmo, uma espécie de ‘déjà vu’ antecipado. Olhando para o cenário, nesta altura, serão umas eleições que constituirão um relativo passeio para Margarida Belém (e para o PS), e é relativamente grande a expectativa para percebermos como se vão comportar as restantes estruturas partidárias, bem como os eventuais candidatos independentes. O PSD ainda não apresentou candidato, e tem tentado explorar alguns assuntos caros aos arouquenses, como o preço da água, não aparentando ter qualquer fio condutor estratégico ou pensamento alternativo. O CDS local, será vítima do eclipse nacional de quem sido vítima? A CDU, que tem mantido uma acção política coerente e assertiva, costuma apresentar candidatos muito válidos, mas talvez continue a ser vítima de um certo preconceito local em relação ao seu posicionamento ideológico. Voltaremos a ter candidatura independente de Victor Brandão, que já manifestou resiliência suficiente para continuar a tentar a sua sorte, seja em que contexto for?
Apesar de algumas incertezas na equação, o que parece certo é que, tal como as eleições presidenciais serão um passeio para Marcelo, as autárquicas serão, igualmente, um passeio para Margarida Belém. Uma reeleição é, praticamente, garantida, a menos que se trate de alguém como Donald Trump. Em casos semelhantes, há a garantia de a democracia funcionar, mesmo que seja da forma mais crua possível. Outro factor a incluir na equação é a pandemia, que poderá afastar alguns eleitores do exercício do seu direito. De resto, o contexto actual veio trazer ao de cima, ainda que de forma ténue, questões muito pertinentes relacionadas com o modelo eleitoral presencial, e de como, em certas situações, pode ser limitado e limitador.
Os próximos meses serão, contudo, uma verdadeira maratona com as barreiras (mais habituais nas corridas de curta distância) distribuídas pelos quilómetros que restam até à meta. A actual presidente, tal como os seus adversários, recolherão ao eremitério, para contarem espingardas. Teremos, certamente, notícias sobre as autárquicas a surgir em breve, começando, talvez, pelas juntas de freguesia. Haverá, certamente, muitas surpresas. Mas, hoje, neste contexto, o que parece é que, de facto, no próximo dia 24 de Janeiro iremos ter um ‘déjà vu’ antecipado.