10 de Janeiro de 2021 – Da natureza das coisas

Tenho andado a redescobrir um livrinho de Stephen Greenblatt, chamado ‘A grande mudança’, que conta a história de um manuscrito cuja descoberta terá alterado o rumo da história do pensamento moderno. O livrinho conta a história de como Poggio Bracciolini, um ex-secretário papal, se lança na descoberta de livros, e de como terá descoberto ‘Da natureza das coisas’, de Lucrécio, a partir do qual foi possível, de forma sustentada, questionar toda a ordem intelectual até então vigente. O manuscrito de Lucrécio terá cerca de dois mil anos, e, ainda assim, questiona-nos duplamente. Sobre a razão pela qual ignoramos, deliberadamente, quem não concorda connosco. E como é possível que um manuscrito com tal antiguidade ainda seja capaz de nos fazer mudar de perspectiva. Para além disso, achei curioso uma citação que Greenblatt faz de um manuscrito de um mosteiro, que procurava esconjurar quem pretendesse roubá-lo e, com ele, o conhecimento que em si encerrava. É, de facto, um sacrilégio roubar livros…

Que aquele que rouba livros, ou não devolve livros emprestados, que o livro se transforme em serpente na sua mão e o pique. Que seja atingido por paralisia e todos os seus membros rebentem. Que definhe de dor, implorando por clemência, e o seu tormento não seja aliviado até que entre em decomposição. Que os vermes corroam as suas entranhas como sinal do Verme que não perece. E quando finalmente for ao julgamento final, que as chamas do Inferno o consumam para sempre.

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