Quando era pequeno, havia duas coisas que me pareciam identificativas de pessoas inteligentes. Uma, era serem esquerdistas. Outra, usarem óculos. A primeira, não consegui. A segunda, sim. Cinquenta por cento, não está mal. Não que, hoje, esteja particularmente feliz por usá-los. Mas de uma coisa tenho a certeza. Vejo muito melhor com eles. De preferência, sem os embaciar por causa da máscara. Ao ponto de ser, como diz Mário Quintana, uma espécie de viajante que procura a aventura como o avozinho procura, por toda a parte, os óculos que, na realidade, estão na ponta do nariz. Ou, ainda, como diz Jô Soares, que a natureza (ou Deus) sabe o que faz. Já prevendo que íamos usar óculos (serviria também para a máscara), fez-nos com orelhas.