
O documentário ‘A life on our Planet’, da ‘Netflix’, mais do que uma espécie de autobiografia de Sir David Attenborough, é uma forma de recentrarmos as perspectivas sobre o que está a acontecer ao planeta Terra. Lembro-me de uma conversa descontraída, há alguns anos, com o meu amigo Professor Artur Sá, em que falávamos, precisamente, desta perspectiva que nos é mais ou menos impingida sobre o fim do mundo. Desde os relatos bíblicos, até às previsões místicas, a tónica é sempre colocada no fim do mundo, como se, de repente, fôssemos todos (nós, e a casa comum que habitamos) engolidos por uma espécie de porta para o nada, e assim daríamos forma a um possível cenário de apocalipse. Nada mais errado, e este documentário mostra-nos isso mesmo. A Terra já conheceu várias extinções em massa, e tratou, ao seu ritmo, de encontrar de novo o equilíbrio. Sabemos bem que a natureza segue o seu curso, independentemente da nossa (ir)responsabilidade na sua gestão. Portanto, o que poderá acontecer não é o fim do mundo. É o nosso fim, o fim da nossa espécie. É nisso que temos vindo a trabalhar arduamente nas últimas décadas, e é para travarmos a nossa própria extinção que temos de pôr os pés ao caminho. O mundo não acabará por nossa causa. Provavelmente, o que nos está a tentar dizer é que conseguirá viver bem melhor sem nós. Agora, como diz Sir David Attenborough, é connosco.