E, lançando mão a um livro, abri, sem pensar onde, a obra completa de Walt Whitman. E abrindo numa página à sorte, surge a oitava ‘Song of the exposition’. Um longo poema de amor à América. E, à medida que se lê, para além de parecer que a voz de quem o escreveu nos lê as mesmas linhas ao ouvido, é como se chegássemos àquela terra pela primeira vez, e, em poucos segundos, víssemos a história em ‘fast-forward’, até chegarmos a este preciso momento. Nós, portugueses, tornamos poética a vastidão do mar, por onde nos aventurámos. Os americanos podem, facilmente, fazer o mesmo com a vastidão (e inúmeras cambiantes) da terra que conseguem pisar. Como é possível que o país que despertou este canto de amor a Walt Whitman seja, hoje, um pântano? Como é possível que um país que se declara o farol político do mundo, esteja em ‘sede vacante’, personificada num não presidente? Quando vamos poder voltar a acreditar e a ver essa América da vitória e da lei, das suas várias geografias, de líderes carismáticos, de barcos a entrar e a sair dos portos, em direcção ao mundo? Quando poderemos voltar a dizer, com o tom e o timbre de Whitman, ‘Eis a América’?
And thou America,
Thy offspring towering e’er so high, yet higher Thee above all towering,
With Victory on thy left, and thy right hand Law;
Thou Union holding all, fusing, absorbing, tolerating all,
Thee, ever thee, I sing.Thou, also thou, a World,
With all thy wide geographies, manifold, different, distant,
Rounded by thee in one – one common orbic language,
One common indivisible destiny for All.And by the spells which ye vouchsafe to those your ministers in earnest,
I here personify and call my themes, to make them pass before ye.Behold, America! (and thou, ineffable guest and sister!)
For thee come trooping up thy waters and thy lands;
Behold! thy fields and farms, thy far-off woods and mountains,
As in procession coming.Behold, the sea itself,
Song of the exposition – 8 (Walt Whitman)
And on its limitless, heaving breast, the ships;
See, where their white sails, bellying in the wind, speckle the green and blue,
See, the steamers coming and going, steaming in or out of port,
See, dusky and undulating, the long pennants of smoke.