20 de Novembro de 2020 – Isolado, mas no mundo

Dei conta, ao regressar aqui, que não vinha desde que tivemos de viver confinados. Curiosamente, ou talvez não, voltei quando também tenho de viver confinado, de forma profiláctica. E dei por mim a relembrar uma sessão preparatória do mestrado em Sociologia, em que eu, na altura (início dos anos 2000) grande fã do conceito de Aldeia Global, resolvi colocar a questão sobre como nos deveríamos posicionar nesse contexto. O Professor José Reis, com a sua bonomia habitual, respondeu de imediato, e com poucas palavras. Começou por dizer que ‘a Aldeia não é Global, a Aldeia é minha’. E confesso, sinceramente, que não precisei do resto da resposta. Quase vinte anos depois, compreendo, como nunca, aquelas palavras. De facto, a Aldeia é minha. Ninguém está disposto a abdicar, de qualquer maneira, do seu espaço, do seu território, da sua identidade. Penso na ‘minha’ Arouca, no ‘meu’ Mosteiro, nas ‘minhas’ aldeias, nos ‘meus’ arouquenses. Penso, também, no meu espaço físico, agora reduzido a poucos metros quadrados. E, de tudo isso, não quero abdicar. Acontece, porém, que estou aqui, a escrever. Estou também aqui, em contacto com amigos, colegas, alunos. Estou aqui à procura de notícias do exterior. A internet está cada vez mais dentro de nós, e pouco estamos a conseguir fazer para que isso não se concretize. Portanto, ainda que de forma consciente, o paradoxo permanece. A Aldeia é, de facto, minha. Mas o que acontece é que eu estou isolado, sim. Não deixo, todavia, de estar no mundo. O que é estranho. E, ao mesmo tempo, curioso.

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