Os monges da Cartuxa de Évora vão deixar o Mosteiro Scala Coeli, depois de terem resistido trinta anos a uma decisão já então tomada. São quatro, idosos, convictos, fiéis ao chamamento. Os cartuxos têm uma dimensão contemplativa radical, com o tempo muito bem distribuído ao longo do dia, com os momentos de oração cantada claramente estabelecidos, vivendo longe do nosso mundo e disponíveis para a oração pelos outros. Ao viver num tempo diferente, o seu posicionamento perante o mundo é, também, diferente. Pouco lhes interessarão uma série de questões práticas, políticas, pseudo-sociais, ‘fait-divers’. Mas o espírito, sim. Essa disponibilidade para aprender, meditar, orar. Sem pressão do tempo, esse tempo que nos empurra para aqui e para além, que nos impele ou impede de fazer isto ou aquilo. Vão, devagar, ao seu ritmo, para Espanha, onde os esperam condiscípulos que, muito provavelmente, os ajudarão a morrer. Algo para que estão preparados, porque, vistas as coisas do nosso lado, já deixaram que uma parte importante de si morresse. Vão continuar a subida da Scala Coeli (a escada para o Céu). Contemplando, cultivando o silêncio, vivendo nesse microcosmos monástico que muito bem reproduz o que é (devia ser?) uma sociedade. Porque são raras as visitas de gente exterior aos mosteiros cartuxos, a reportagem do jornal ‘Expresso’ deste sábado vale bem a pena ser lida.
Stat Crux dum volvitur orbis (O mundo gira, a Cruz fica)