Pensar em férias de Verão é voltar a respirar o aroma salgado das piscinas oceânicas de São Pedro de Moel. A inocência e o rápido bater do coração que se têm aos quinze anos. E ela, novamente, ali. Como se, ao passar, afastasse as ruínas e voltássemos ao momento em que ela passou pela beira da piscina pela primeira vez. Ela era perfeita. Como se tivesse todo o sol daqueles dias coberto pelo fato de banho azul de mar. E voltava a passar. Olhávamo-nos com aquela avidez desconhecida de quem se via pela primeira vez, travados pelo turbilhão de sensações que não cabiam nos corpos ainda adolescentes. Ela voltou a passar, e eu deixei que fugisse. Voltei, ainda, a correr, para tentar cruzar caminhos. Poder dizer-lhe tudo isto em forma da pergunta ‘como te chamas?’, e resumir tudo a um rosto e a um nome. Mas ela não voltou a passar. E eu fiquei, para sempre, com o aroma salgado das piscinas de São Pedro de Moel, a cada Verão. Como quem espera que ela passe de novo, para poder, sem dizer nada, pegar-lhe na mão, soltar o sol que traz preso ao fato de banho de mar, e dizer-lhe que talvez a tenha desejado ali, como quem ama pela primeira vez, na vertigem de um mergulho no desconhecido. Esse desconhecido por onde mar e sol entram, e ficam, o tempo que for preciso, para voltar a vê-la passar. Para saber, desde o início do mundo, quem é ela.