21 de Março de 2016 – Bach, o ribeiro que corre

Ouvir a «Paixão Segundo São Mateus», de Johann Sebastian Bach (basta os primeiros minutos), é quase como sentir os pulmões insuflarem com um ar diferente, com uma vida diferente. Bach tem o condão de, a partir das melodias aparentemente mais simples (algumas até demasiado simples), tecer uma teia de sons, de forma tão rendilhada e sólida, que se transformam em coisas verdadeiramente estruturais. A expressão «Bach» pode ser, livremente, traduzida para português como «Ribeiro». Neste sentido, a música de Bach corre, verdadeiramente, como um ribeiro. Como se fosse uma qualquer força da natureza, que cumpre a sua função por apenas existir. Assim como há um «antes de Cristo» e um «depois de Cristo», na História da Humanidade, há também uma espécie de «antes de Bach» e «depois de Bach», na História da Música. É mais fácil, talvez, ouvir a Paixão (de preferência a versão cénica de Peter Sellars, apresentada pela Filarmónica de Berlim, com direcção de Simon Rattle), e deixar esse novo ar, esse ar diferente habitar-nos, para se perceber melhor tudo isto. Hoje, é dia de aniversário de Bach.

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