Leio hoje, com avidez e bebendo a sabedoria de cada palavra, um texto com este título, no “Diário de Notícias”, escrito, como sempre, de forma sublime, por Vasco Graça Moura. A atenção desvia-se de imediato para aquelas linhas, pelo título. Depois, crava-se em cada linha, em cada palavra, pela pertinência do que diz. É urgente, de facto, a literatura. Onde aprendemos cada vez mais. Onde somos, vemos, sentimos o impossível. Onde fomos, somos e seremos. Há alturas em que o dia devia ter 50 horas. Todas para serem lidas. Porque há tantos livros ainda a ler…
“Hoje temos todos a consciência de que a literatura é um instrumento do conhecimento e corresponde a um meio de funcionamento ao nível da sociedade que vai muito mais longe. Penso que seria essencial que a escola portuguesa, tanto ao nível de docentes como de discentes, tivesse a capacidade de conjugar estas perspectivas com o território, tantas vezes esquecido, das humanidades. (…)
Aos que falam da crise das humanidades e da crise da literatura, há também que saber dizer que sem crise (sem pensamento crítico) não existe qualquer futuro reflexivo, seja em que domínio do conhecimento for. A literatura é um dos mais densos lugares em que essa reflexão e essa compreensão se constroem. A literatura é algo que nos define como cidadãos reflexivos de uma cultura historicamente situada, com um património que hoje, cada vez mais, devemos aprender a valorizar, a praticar e a transformar. É nessa conjugação que reside a eminente dignidade da literatura”.
Vasco Graça Moura – A urgência da literatura (DN de hoje)