Haveria de voltar àquele sítio, perdido nas páginas de “Lunário”, de Al Berto. Haveria de ver adensada a espuma marítima, vista do cimo da pequena falésia, como que a reconhecer as ruas, os locais, a praia, desde as primeiras linhas. Mas agora ainda não. Agora, ainda mergulho os cabelos compridos na água salgada da piscina. Mal os olhos deixaram escorrer os restos de água salgada, ela surgiu. Tímida, com movimentos rápidos primeiro, depois a passar lentamente. Com a mesma cadência, o olhar acompanha-lhe os contornos do corpo. Azul. Torneado. Como as ondas do mar, ela vai e vem. São trocados olhares, como se fossem proibidos. Ora próximos, ora afastados. Aproximamo-nos e afastamo-nos, sem nunca trocarmos palavras. Como duas ondas do mar, que não se encontram. Feitos de dúvidas, saímos. Eu primeiro. Algum tempo passa, e a vontade de vê-la outra vez faz-me voltar a percorrer o caminho até onde a havia visto pela última vez. Sem nos vermos, cruzámos ruas paralelas. Como as sereias, talvez tenha regressado ao mar, com a espuma das ondas. Deixando sobre a falésia uma quantidade infinita, até ao horizonte, de perguntas por responder. Nunca mais a vi. Mas sempre a lembro. De corpo esculpido em azul de mar. Seria uma sereia, por certo.