Acabo de ouvir, de fio a pavio, o último álbum de Fausto Bordalo Dias. Sublime, sublime, sublime, termina a viagem «Por este Rio acima», tantas vezes feita, até ao adeus final. Todas as viagens têm um adeus. Umas vezes mais definitivo que outras. Se vigias, de infinitas maneiras, algures no espaço celeste onde vejo a lua dizer que vai diminuir, quando sei que está a crescer, escuta esta música comigo. Porque também fomos por esse rio acima, os dois, muitas vezes. E ensinaste-me caminhos, mesmo quando partiste. Se estás aí, sabes que falhei. Bem que lançávamos o barco de saída, quando a guitarra era objecto partilhado. Fazes-me falta, para teres a palavra providencial em todo o tempo. Vou em busca das montanhas azuis sozinho. Porque tu já não estás aqui. Como a «welwitschia mirabilis» de Fausto, Alice, tu eras a minha «welwitschia mirabilis» de pai. Já não tenho guerreiros nem descobridores comigo. Exponho-me ao perfume das chuvas. Frias, deste Inverno que agora começa. Tu ficas, para sempre, aqui. E tu, guerreira, também. Comigo. E eu, vou em busca das montanhas azuis sozinho.
O PERFUME DAS CHUVAS
(Fausto Bordalo Dias)chegaste no rasto da luz pela água
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ao deserto da areia florida
Welwitschia Mirabilis
e nunca mais
uma andorinha
tão breve que fosse
deixou de voar
nas asas leves e azuis
do planalto da minha infância
eu sei que te abandono
quando agora parto pela orla de todos os mares
mas tu ficas
para sempre
no perfume das chuvas
Alice