27 de Novembro de 2011 – A mão que ensina

Hoje, ao apertar a mão, de manhã, ao António «Rato», tive uma espécie de premonição do que o dia me iria ensinar. Enquanto nos cumprimentávamos, sentia a mão gretada e carnuda, de quem trabalha a pedra. De quem esculpe. De quem constrói, com arte. Senti que a minha mão, esguia e magra, estava a dizer-me que talvez nunca tenha construído (e talvez nunca construa) nada. Nem com, nem sem arte. Talvez nem plantar uma árvore. Nem ter um filho. Nem escrever um livro. Não tenho as mãos gretadas da arte. Nem de construir. Nem de esculpir nada. Nunca construí um muro, colocando, paciente e sabiamente, pedra sobre pedra, com o engenho e a arquitectura de quem sabe que é assim que se faz. Nunca esculpi um pináculo. Nunca fiz uma calçada. Nunca tive a mão gretada. Nem do tempo. Nem do saber. Nem de nada, a não ser de frieiras. Em menos de um minuto, a mão do António «Rato» ensinou-me tudo sobre arte, saber, viver. Ensinou-me, ao largar, que tudo o que eu sei sobre a vida é um imenso nada.

2 thoughts on “27 de Novembro de 2011 – A mão que ensina

  1. Ivo, leio o que escreves sempre com atenção e desta vez comento… Duvido que assim seja, desde o pouco que te conheço! Sabes bem que as tuas mãos, porque são o instrumento que mais usas para dar música ao que sentes, ao que escreves fazem muito!
    Ainda que a tua arte seja outra, não esqueço o momento em que te vi pela primeira vez como maestro… e esse abrir as mãos, para um mundo que te está no coração!

  2. Amigo,

    Há imensos saberes neste mundo e eu sei que tu sabes!
    Há imensas artes neste mundo e eu sei que tu sabes!
    Há imensas obras neste mundo, todas diferentes e com origem em muitos saberes e artes, mas eu sei que tu também sabes!

    As mãos que “esculpem” as obras de arte são diferentes e únicas, “gretada(s) e carnuda(s)”, ou “esguia(s) e magra(s)”, como reflexo do saber que carregam.

    Não esculpes como o António “Rato”, mas as tuas obras não são menos nobres ou importantes do que as dele.
    As tuas mãos não conhecem o peso do maço e do pico, mas tratam como velhos amigos todos os instrumentos que tocas, como uma extensão do teu próprio corpo, como se fizessem parte de ti e falassem por ti.
    As tuas mãos encerram outros saberes e eu sei disso!
    Isso que fazem são obras de arte e eu sei disso!

    É um pensamento tranquilizante, sabermos que os saberes estão dispersos pelas pessoas e que cada uma pode aprender mais ou menos, consoante a sua vontade.
    É um pensamento perturbador, sabermos que nem todas as pessoas são devidamente valorizadas pelos seus saberes e pelo papel que desempenham na estrutura social.

    Enfim, o mundo não é perfeito, só a arte!
    Abraço.

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