Em Portugal, como em tudo o que confere protagonismo, exagera-se um pouco na reverência conferida a determinadas profissões, pessoas, situações. O termo «maestro», em italiano, significa, mais do que o chefe de orquestra, essencialmente «professor primário». Aquele que acompanha de perto a aprendizagem das primeiras letras, dos números, do conhecimento básico. Hoje, numa das aulas da Universidade de Aveiro, à margem do conteúdo em que trabalhávamos, sobre afinação, surgiu o debate sobre o ser-se maestro, o estar-se maestro, o chegar-se a maestro. E concordámos na observação de que se vê, frequentemente, em Portugal, uma boa banda filarmónica, uma boa orquestra, um bom coro, em que o pior músico de todos é, sem dúvida, o maestro. Nestes casos, o som deve-se à qualidade dos músicos, e não ao «executante do instrumento orquestra». Em Portugal, a formação destes profissionais é escassa, e reduzida a alguns cursos, dos quais se destaca a licenciatura proposta pela Academia Nacional Superior de Orquestra ou do Conservatório Regional de Gaia, ou o mestrado da Universidade de Aveiro. «Chega-se lá» com base na experiência, mais do que no conhecimento académico, ao passo que deveria ser uma mistura das duas coisas a resultar num bom maestro. Fez-se luz, mais ao final da tarde, num ensaio orientado por Christoph König, titular da Orquestra Nacional do Porto, que «pegou» hoje no Coro Casa da Música, para trabalharmos o Requiem de Brahms. «Luz», afinação, precisão, expressividade, musicalidade. Tudo ali, em gestos simples. É isso, um maestro.