O Governo continua a insistir no TGV, contrariando toda a lógica do país que, supostamente, devia servir. O Governo está, assim, a servir não o interesse de quem o elegeu, mas outros interesses, que ainda ninguém conseguiu descortinar muito bem. O Governo persiste no erro de abandonar a construção infra-estruturas básicas, com as quais, aliás, se comprometeu, e entende a obra da alta velocidade como um projecto que visa trazer coesão ao território nacional. O Governo não diz aos portugueses que esta obra beneficia única e exclusivamente a região da Grande Lisboa, que, de resto, já esgotou as verbas do Fundo de Coesão que a Europa disponibiliza a Portugal, para aquela região. O Governo não diz aos portugueses que está a roubar ao que deveria servir para outras regiões convergirem para essa coesão territorial, com base nesses fundos, a que têm direito, e que serão, tudo indica, mais uma vez, desviados para uma obra completamente desnecessária, desajustada e injusta para a grande maioria dos portugueses, que têm de a pagar, sem nada beneficiarem com isso. O Governo diz uma coisa e o seu contrário, quando afirma que esta obra não pesará no Orçamento de Estado, e quando, por outro lado, afirma, pela voz do Ministro das Finanças, que temos de ser realistas e só fazermos o que pudermos. «Fazermos o que podemos», seria ouvir do Governo a confirmação de uma promessa expressa em alta voz, por alguém que não se sabia se era Primeiro-Ministro, candidato a tal, ou outra coisa qualquer, em plena Praça Brandão de Vasconcelos. Isso sim, seria coesão e realismo. Tudo o resto deveria apenas servir para que estes senhores abandonassem os seus cargos, a alta velocidade.
«Estamos a trabalhar para que [na obra do TGV] não haja qualquer ónus sobre o Orçamento do Estado. (…) Temos de introduzir realismo para nos comprometermos com aquilo que efectivamente podemos».
(Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças, hoje, no Parlamento)