Só neste país é que se diz «só neste país», diz (e muito bem) Sérgio Godinho na canção. Há alturas como esta em que parece que o mundo anda mesmo todo ao contrário. Hoje, o «Jornal de Notícias» escreve que o senhor Procurador Geral da República não considera que tentar controlar a comunicação social seja crime contra o Estado de Direito. Por outras palavras, «venham daí, senhores, instaurem de novo a censura prévia, pressionem donos e directores de órgãos de comunicação social, influenciem à vontade, Ave, ó paladinos do poder». Há aqui algumas falácias no discurso, que nunca ninguém tentou desmistificar, e que fazem alguma diferença. Sim, é verdade, a isenção não existe. A imparcialidade não existe. Porque são homens e mulheres que fazem informação, que a tratam à sua maneira, com a sua perspectiva sobre os factos. Heisenberg já preconizava que até na Física o observador interfere no campo/objecto observado. Não é novo. Portanto, não venham vender-nos a ideia de uma comunicação social neutra. Mas outra coisa, bem diferente, é que a comunicação social não seja neutra sendo parcial, controlada, vítima de caprichos do poder. E, no entretanto, quem se senta na «cadeira» continua a distribuir privilégios aos seus, como altos cargos em empresas públicas, lugares políticos, em Portugal ou na Europa, e favor troca favor. Só mesmo neste país.
«Só Neste País» – Sérgio Godinho
Unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
Para provar quem vai à frente
Ou fica atrásSe é por
Ir estabelecer um novo record
Compremos o Guinness
Ao preço que for
E fica o assunto homologado
E sai espumantes
Às vezes dá p’ra um banquete
Ou dele as sandesSempre
Complicamos a coisa mais simples
E simplificamos a complicada
Sai em rajada
O tiro pela culatra
Às vezes mata
Às vezes ressurreição
Foi de raspãoSó neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste paísSão muitos séculos em morna ebulição
A transitar entre o granizo e a combustão
E um qualquer hino
P’ra qualquer situação
A pessimista, a optimista…
E vai abaixo e vai acima
E vai abaixo, e vai acima
(e agora a rima):Portugal é nosso p’ro bem e p’ro mal
E o mal que está bem
E o bem que está mal
E o bem que está bemJuro
P’lo fado
P’lo baile e p’lo kuduro
Que este país ‘inda tem futuro
É verde e maduro
Como a fruta, às vezes brota
Às vezes, consternação
Secou no chãoPor isso unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
Para provar
Quem vai à frente
Ou fica atrás…Só neste país
É que se diz:
Só neste paísPortugal é nosso p’ro bem e p’ro mal
Heisenberg, Nobel e já agora,que estamos entre amigos:
Leiam o(s) “Diálogos Sobre Física Atómica”
Obra com mais de trinta anos mas…cuidado:
Música, filosofia, metafísica…maravilhoso
e a física atómica é só pretexto para…