José Manuel Fernandes, ex-director do jornal «Público», foi hoje ouvido na Comissão de Ética, na Assembleia da República. E não teve meias palavras: a relação do Governo com a comunicação social é doentia. E é doentia, e sentimo-lo, porque Sócrates está quase sempre lá. Falando ou calado, no passado ou no presente, sobre tudo ou sobre nada, seja em notícias favoráveis ou desfavoráveis, pelas melhores ou pelas piores razões. Não é difícil fazermos as contas, e verificarmos que tanta presença só se deve ao facto de haver uma «máquina», que pode não exercer um controlo tão apertado como se diz, mas que produz factos políticos, e, fazendo-o, cria notícias, e, criando notícias, influencia decisivamente. Relatou mesmo uma situação em que o próprio Primeiro-Ministro revelou ter uma «táctica» na sua «cedência» à comunicação social, e não teve problemas em dizer (e bem, por ser de opinião) que o texto de Mário Crespo só não seria publicado por si se o autor assim o desejasse. Hoje foram ouvidos José Manuel Fernandes (ex-director do Público) e Mário Crespo (jornalista da SIC). Amanhã, serão ouvidos António Costa (director do Diário Económico) e Alberto Arons de Carvalho (que teve, no Governo, a tutela da RTP). Dia 19 de Fevereiro, serão ouvidos Felícia Cabrita (jornalista do Sol) e Armando Vara. Isto promete.
«Ao longo dos últimos cinco anos, houve uma relação [do gabinete do primeiro ministro] com os media que foi, em muitos aspectos, pouco saudável, para não dizer doentia e criadora de um ambiente o mais desfavorável à liberdade de expressão».
«Na véspera [da entrevista] fomos informados pelo gabinete do primeiro ministro que a entrevista tinha sido dada a outro jornal por instruções do primeiro ministro, que não queria que a primeira entrevista saísse no Público».
(José Manuel Fernandes, ex-director do jornal «Público», à Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura)
Caro Ivo,
Nestas coisas convém sempre ouvir várias partes.
Deixa-me citar um dos Administradores do Público:
“O antigo dirigente e deputado do CDS António Lobo Xavier afirmou hoje que a audição parlamentar sobre a liberdade de expressão constituiu «um desrespeito» para com o Parlamento e um desvio dos problemas reais do país.
«Falaram de impressões e de sensações, e foi uma triste imagem e um desrespeito ao Parlamento», declarou hoje em Coimbra, ao reportar-se «ao espetáculo» do jornalista Mário Crespo, e também à sessão com o antigo diretor do jornal Público José Manuel Fernandes.
Para António Lobo Xavier, administrador da Sonaecom, a liberdade de expressão «não é o problema», «mas em Portugal perde-se a noção de certas coisas». “