11 de Fevereiro de 2021 – Adiar ou não adiar? Eis a questão…

Foto: Tiago Petinga (LUSA)

Rui Rio resolveu dar a conhecer a decisão de que vai reflectir para tomar uma decisão. Rasteirado por quem lhe fez a pergunta, ou por si próprio, o que é facto é que disse… nada. A pergunta tinha a ver com o eventual adiamento das eleições autárquicas, agendadas para este ano. E, mais uma vez, ao anunciar a ponderação, mas deixando já mais ou menos claro que a sua posição pende para o adiamento, volta a ser lícito questionarmo-nos sobre a conduta dos partidos políticos. O que Rui Rio disse foi que ia ‘reflectir a sério’ (porque, talvez, poderia pensar em ‘reflectir a brincar’). Num tema como o das eleições autárquicas, em que tudo o que está em jogo são contextos locais, em que, cada vez mais, os candidatos se desvinculam dos partidos e apresentam soluções independentes (com toda a carga burocrática que isso implica), em que o que se julga são as obras, as personalidades e as ideias, Rio não presta um bom serviço ao país, ao centralizar uma questão que é local. Ainda mais, ao centralizá-la ao nível dos partidos que, bem sabemos, decidem primeiro em benefício próprio. Por outro lado, o debate que deveria estar a decorrer, neste momento, seria o de encontrar ferramentas para estender o voto a mais cidadãos, o de encontrar novos formatos deste exercício de cidadania, o de modernizar o sistema e combater a abstenção. Todavia, e mesmo que truncado e seccionado, se o objectivo foi lançar o debate, foi conseguido. E, como é habitual na sua postura pública, a forma não foi, nem de perto nem de longe, a ideal. Porque o que vai gerar é um fluxo de opiniões, vindas de todos os lados. E o fluxo de opiniões, rapidamente se transforma numa espécie de guerrilha cibernética, da qual dificilmente sairão boas decisões. Sim, porque, cada vez mais, Governo e Oposição governam e opõem-se, antes de qualquer outro palco, no da comunicação social e das redes. Tropeço numa frase do Papa Paulo VI, que, já em 1974, e num clima em que a guerra colonial ainda tinha as suas feridas abertas, era bem elucidativa. Basta metamorfosear as palavras, e transferi-las para o contexto voraz da actualidade.

Hoje em dia, a opinião é rainha que governa, de facto, os povos. O seu fluxo imponderável forma-os, orienta-os e depois os povos, isto é, a opinião pública operante, a governar os governados.

Papa Paulo VI (Mensagem do 7.º Dia Mundial da Paz)

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