A vida do homem sobre a Terra não é ela uma luta? Não são os seus dias como os de um assalariado? Como um escravo suspira pela sombra e o jornaleiro espera o seu salário, assim eu tive por quinhão meses de sofrimento e couberam-me em sorte noites cheias de dor. Se me deito, digo: ‘Quando chegará o dia?’ Se me levanto: ‘Quando virá a tarde?’ E encho-me de angústia até chegar a noite. A minha carne cobre-se de podridão e imundície, a minha pele está gretada e supura. Os meus dias passam mais depressa que a lançadeira e desaparecem sem deixar esperança. Lembra-te de que a minha vida é um sopro, e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade.
(Jb 7, 1-7)
Penso em Job quando penso nos profissionais de saúde, que, de repente, se vêem a ter de trabalhar com o nada que lhes foi deixado por quem desistiu do Serviço Nacional de Saúde, preferindo, agora, culpar a ‘troika’. Em seis anos (seis anos) sem ‘troika’, o Governo de Portugal não foi capaz de dar o mínimo exigível ao SNS. Penso em Job quando penso nos professores. Que entre ordens e desordens, decisões e indecisões, acabam entregues a si próprios pelo próprio Ministro da Educação, que diz confiar neles para resolverem os casos complicados que o Governo não quer resolver. Penso em Job quando penso nos que perderam tudo, até mesmo a esperança, nos que perderam a vida e nos que os perderam. Mas penso também em Job, e em todas estas pessoas, quando penso que o povo é sábio. E se diz que ‘não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe’, resta-nos cultivar a paciência. Essa paciência. De Job.