Alberto Caeiro dizia, a certa altura das suas reflexões de guardador de rebanhos, que leu até lhe doerem os olhos o Livro de Cesário Verde. Quando se tem o privilégio de ler as obras (e já vão sendo algumas) do meu estimado amigo Afonso Veiga, o que acontece é quase o mesmo. Talvez com a diferença de que não ficam os olhos a doer, antes a curiosidade sempre afiada, a cada novidade que o autor nos vai dando, à medida que desfia as contas da história a que se propõe. Desta vez, o tema é a mesa. A mesa em si, mas também as mesas onde o Mosteiro de Arouca punha, de facto, comida. A sua mesa, ou as suas mesas, e as mesas dos tantos que, ao seu redor, trabalhavam para a edificação dessa Jerusalém terrestre em que se foi transformando o edifício monástico. Da herança beneditina a um certo esquecimento da regra, dos recursos aos mantimentos, dos rituais aos ingredientes, dos espaços aos mestres de ofícios que ali prestavam serviços, de um pouco de tudo e de tudo um pouco está composta esta ‘Mesa’. Que se lê de forma saborosa, e sempre à espera que o autor nos possa servir mais um prato.