Durante algum tempo, pensava que um maestro poder dispor da Filarmónica de Viena apenas para executar valsas e polcas constituía um desperdício. Com o tempo, fui-me apercebendo de que não é bem assim, de que há coisas que vale a pena serem ouvidas outra vez (ou, para mim, pela primeira vez). O nível de qualidade da produção televisiva do Concerto de Ano Novo foi, também, aumentando consideravelmente. Mas este ano, atípico, como bem sabemos, trouxe à tona um pormenor essencial. É que não importa a qualidade da transmissão, não importa a quantos milhões a música está a chegar, não importa até mesmo que os músicos recebam, aqui e ali, aplausos vindos de todo o mundo, trazidos pela internet. Tudo isto é muito menos impactante do que uma sala sem público. Riccardo Muti, prestes a completar 80 anos, disse tudo na sua mensagem. A música é uma missão, essencialmente para que construamos uma sociedade melhor. E quanto isso, não há sala vazia que nos pare.