Ao fim deste tempo todo, a tão ansiada via que nos ajude a chegarmos mais rapidamente às auto-estradas mais próximas leva-nos, praticamente, a lado nenhum. Uma estrada que não leva a lado nenhum, como os ‘Talking Heads’ cantam, é suficientemente interrogadora sobre os dois pontos que une. Se sobre o lado nenhum, pouco haverá a dizer, muito haverá a pensar sobre o ponto de partida. E, sobre o ponto de partida, considerando que seja Arouca, podemos considerar que o trabalho de desenvolvimento, coesão territorial, preservação ambiental, equilíbrio entre a riqueza dos recursos naturais e a actividade turística, dinâmica empresarial e económica, entre outros aspectos que poderíamos equacionar, foi sendo feito. A luta pela continuação da obra, também, umas vezes acreditando ingenuamente em promessas claramente envenenadas, feitas por gente de carácter duvidoso, outras, cavalgando ondas políticas. Mas nada mudou. Continuamos a ter uma estrada que, pelo menos por enquanto, leva a lado nenhum.
O destino a que chegou a chamada Via Estruturante é fruto de dois tipos de teimosia. Primeiro, uma teimosia estrutural, que fez com que, contra tudo e contra todos, não se discutisse sequer qualquer alternativa de traçado, diabolizando qualquer voz dissonante do Executivo municipal da altura. Uma teimosia que radicalizou as posições entre os que eram a favor da estrada e os que eram contra a estrada. Uma teimosia que colou a um presidente de Câmara o distintivo de pai da obra e que elegeu o seu sucessor. Uma teimosia que, terminados os quatro mandatos autárquicos após a retirada do pai da obra, muitas promessas, anúncios, cerimónias, assinaturas e muita coisa publicada na comunicação social, manteve a estrada a chegar a lado nenhum.
Por outro lado, uma teimosia estruturante. Feita de muita diplomacia, trabalho de gabinetes, contactos, pressões, cedências. Uma teimosia que levou a que vários candidatos a Primeiro-Ministro assumissem a obra como prioridade. Que apresentassem soluções que pareciam desenhadas propositadamente para nós e para as nossas necessidades. Uma teimosia que fez com que se publicassem, recentemente, notícias sobre um eventual lançamento da obra, apesar de o relógio continuar a contar, depois do último compromisso assumido pelo Estado, e de o destino da estrada continuar a ser lado nenhum.
O destino da nossa estrada começou por ser o Porto, depois a A1, depois a A32. A teimosia, começou por ser a dos prós e contras, depois a da diplomacia, depois a dos anúncios sucessivos. O ponto de partida, esse foi-se desenvolvendo, como que à procura da força e da dinâmica suficientes para alavancar este objectivo. Estará, portanto, na hora de começar a pensar em outro tipo de teimosia, que seja mais efectiva, mais mobilizadora, mais unânime. Que não fique à espera da anuência de nenhum político nacional, nem muito menos do Governo. Que não fique à espera de nenhum ciclo eleitoral ou de nenhuma pseudo-oportunidade de financiamento, seja ele de que tipo for. Porque, nesta altura, a diferença está entre continuarmos a ter uma estrada que nos leva a lado nenhum, ou uma estrada que nos leve a um território com que todos nos identificamos, que idealizamos e que construímos juntos. Qualquer repetição de fórmulas do passado, que já verificámos não resultarem, apenas manterá o destino que já conhecemos. Lado nenhum.