
Tentar ensinar a arte é dos desafios mais interessantes que há. O que implica, antes de mais, que tenhamos a capacidade de um deslumbramento constante, de preferência com as coisas mais pequenas que nos possam acontecer. A curiosidade é o motor da aprendizagem, na mesma medida que ensinar e aprender são verbos que se conjugam em simultâneo, e só resultam se forem colocados juntos, em cada acção. Agostinho da Silva tem esse condão de nos deslumbrar com cada pequena coisa, que na realidade se transforma em grande coisa, quando dita por si. Nas suas ‘Considerações’, como em vários escritos e entrevistas, sempre dedicou muita reflexão às questões da Educação e da Escola. E não teve grandes mesuras ao comparar a escola e a oficina, porque é preciso que se ensine e se aprenda a fazer. Mas também a escola e a arte. Porque nem uma nem outra o são apenas em si, ou apenas por serem. Mas pontos essenciais do universo, ou do mundo. Do nosso mundo. Esse que teimamos em dizer que queremos melhor, mas que talvez seja hora de irmos fazendo mais por isso.
O grande educador não pensa na escola pela escola, como o grande artista não aceita a arte pela arte; é incapaz de se encerrar na relativa estreiteza de uma vida de ensino; a escola, de tudo o que lhe oferecia o universo, é apenas o ponto a que dedicou maior interesse; mas é-lhe impossível furtar-se a mais larga actividade. De outro modo: trabalha com ideias gerais; não dirá que esta escola é o seu mundo, mas que esta escola é parte indispensável do seu mundo.
‘Considerações’ – Agostinho da Silva