Às vezes, apetece ficar naquela linha de fronteira, onde não se está num lado, nem no outro, nem, aparentemente, em lado nenhum. Como quem está à porta e não entra, mas também não vai embora. Como quem tem uma quantidade infindável de sons para debitar, mas não consegue sair do silêncio primordial e cortante que antecede o primeiro milésimo de segundo, em que a curva sonora inicia a trajectória. Apetece ficar numa espécie de limbo, onde sabemos que não somos nada, nem estamos em parte alguma. Como se existíssemos sem existir. Ou estivéssemos à espera do momento ideal para. Como quem, junto ao abismo, espera pelo preciso momento em que os pés saem do chão e começa um caminho novo. Nesse preciso milésimo de segundo. Onde uma espécie de nada é tudo.