Ler é deixar que as palavras ganhem vida, ganhem um som próprio dentro de nós. Ler é deixar que as palavras façam o seu curso, se transformem. Ler é sermos outros, sendo nós mesmos, surpreendermo-nos, deixarmos que nos digam coisas diferentes, nunca ouvidas, mesmo que com as palavras de sempre. E, às vezes, as palavras entram-nos sem pedir licença, e dizem-nos o que queremos dizer. Como se estivessem à espera do momento certo para invadir, silenciosamente, à espera do momento certo para se fazerem ouvir com estrondo. Como quando olho e leio, de Caio Fernando Abreu: «Foi muito lindo ver-te pela primeira vez e pensar, sem palavras: eu quero».