Há precisamente 104 anos, morria Gustav Mahler. Não se sabe bem porquê, há uma fixação pelas últimas palavras, ainda mais quando se trata dos grandes génios. Talvez à procura de uma qualquer epifania, ou de um ponto final colocado com toda a precisão do mundo, ou de uma cadência perfeita que, de tão perfeita, chega a ser de outro mundo. Vergílio Ferreira dedica um dos seus pensamentos às últimas palavras de alguns grandes nomes, e, segundo a literatura, há frases marcantes, sejam elas, de facto, as últimas palavras de quem as diz ou não. De todo o modo, Mahler morreu há precisamente 104 anos, e dizem que as suas últimas palavras foram «Mozart, Mozart!». Com toda a genialidade que estava concentrada naquele pequeno homem de um metro e cinquenta, não quero sequer imaginar o porquê de Mahler se lembrar dele no último sopro de vida. Prefiro pensar que foi em tudo. E talvez, no seu lugar e com o poder incomensurável da música que produziu, também escolhesse «Mozart» como última palavra. Dita vezes sem conta, até expirar.