O primeiro pecado capital de Cristiano Ronaldo (a ordem de importância dos sete é irrelevante) é o seu excessivo foco no trabalho. Todos os treinadores que o orientaram e grande parte dos companheiros de equipa que foi tendo são unânimes ao reconhecer que é sempre o primeiro a chegar, o último a sair e o que mais intensamente trabalha os vários aspectos do treino. CR7 não esquece, contudo, o facto de que o seu trabalho individual tem por objectivo o enriquecimento do colectivo. Acresce a isto o facto de estar a fazer a sua carreira no estrangeiro, o que é particularmente português, sobretudo no aspecto do foco no melhor desempenho possível, que é, no fundo, o que faz de nós efectivamente bons e reconhecidos pelo mundo fora.
Decorrente do primeiro, o segundo pecado capital de Cristiano é, precisamente, o seu percurso, ou a sua carreira. CR7 começou como todos os outros, foi crescendo e dando nas vistas como muitos outros, mas houve um conjunto de factores que fez com que «explodisse» no Sporting, e rapidamente conquistasse a Europa e o mundo. Sorte, trabalho ou o acompanhamento correcto, ou a soma das três, fez com que a sua carreira nunca tivesse tido um revés, um passo dado em falso, críticas ferozes da opinião pública ou qualquer arrependimento. Ronaldo pode orgulhar-se de poder olhar para as fotografias antigas, tiradas ainda na Madeira, com o pai no «Andorinha» e no Nacional, junto da mãe à entrada do antigo Estádio de Alvalade, ainda com cara de menino no Manchester United e por aí fora, com a certeza de que cada passo correspondeu à subida de um degrau, de forma consistente.
O terceiro pecado capital de CR7 é o facto de projectar Portugal no mundo. Melhor ou pior, com mais ou menos emoção, na maioria dos momentos altos da sua carreira Cristiano dirigiu-se ao mundo em português, e nunca escondeu nem se afastou da «responsabilidade» de ser um símbolo do nosso país. Por muito que o acusemos de «tirar o pé do acelerador» na Selecção Nacional, basta lembrarmos os golos contra a Suécia, por exemplo, e ficamos conversados.
O quarto pecado capital de Ronaldo é a sua humildade (em alguns casos, alguns dirão mesmo «parolice»). Uma «parolice» que se lhe desculpa, porque tudo o que tem e tudo o que é deve-o a si mesmo, ao seu esforço, ao seu trabalho, ao seu posicionamento estratégico perante os desafios que lhe foram surgindo. A riqueza, a quase ostentação de CR7 não é maior, nem menor, nem diferente da que outros ídolos foram apresentando, ao longo dos tempos. Figo foi acusado de ser «pesetero» quando trocou Barcelona por Madrid, por exemplo, acusação que não se conhece a Ronaldo.
Quinto pecado capital é o facto de desvalorizar o confronto constante com Messi. Os seus gestos, a luta que protagoniza em campo e até mesmo a forma como se veste distinguem-se, para o bem e/ou para o mal, do argentino. O vídeo recente de um Messi desinteressado do jogo, não abona a seu favor.
Outro pecado capital é o facto de não esquecer a família em nenhuma circunstância. Com todas as críticas que possamos apontar-lhe, e pela história de vida que teve, num momento da vida social em que a família é tão desprezada, o seu exemplo deve ser tido em conta.
O espaço está a ficar curto para apontar todos os pecados de Cristiano Ronaldo, mas não podemos esquecer, para terminar, a sua capacidade de comunicação. Estudada ou espontânea, a sua «marca» é reconhecida e «vende». Prova disso é o seu reconhecimento universal. São sete pecados, que facilmente se perdoam. Até porque todos nós temos um bocadinho de inveja (ou melhor, cobiça). Quem não se sentiria no topo do mundo se estivesse no lugar de CR7?