A notícia da morte de Robin Williams trouxe consigo, em poucos segundos, vários pensamentos. O primeiro, desde logo, regressando àquele Verão em que a sua presença foi constante, entre matinées e serões, com «Dead Poets Society», «Good morning, Vietnam», «Awakenings» ou «Good will hunting». De como a sua versatilidade se tornou referência, e de como as suas personagens sempre carregavam uma aura de sonho e simplicidade. Outro, logo de seguida, foi o de associar Williams ao «Palhaço Pobre». O Palhaço Pobre é sempre o mais engraçado, mesmo atolado na sua desgraça. E sabe disso, e vive isso. Na «Time», Jim Norton escreve que talvez nunca consigamos perceber por que razão Robin Williams decidiu combater a dor, terminando com a vida. Williams não se via a si mesmo como todos o víamos. Talvez não se sentisse trinfador ou cheio de «glamour», mas triste e incompleto. As pessoas mais engraçadas são, na maioria das vezes, as mais escuras. É talvez desse abismo profundo que vem, precisamente, o profundo sentido de humor. A tristeza do palhaço é a maior ironia do «showbusiness», escreve Simon Jenkins no «The Guardian». Só que Williams não era um palhaço qualquer. Ria e chorava. Gesticulava e disfarçava-se. Dominava a fúria e a gargalhada. Mas só uma dicotomia o traiu. Se a sua «doença» fosse física, talvez um minucioso cirurgião conseguisse, após uma qualquer operação demorada, curá-lo. Mas a luta aqui era outra. E na luta contra si mesmo, Williams perdeu, ao continuar a ser o mais engraçado, mas o mais triste.