Fico com a sensação de que somos urbanos demais. Os pombos passaram a ocupar os espaços que, outrora, eram morada de férias das andorinhas. Já não vemos pardais com tanta regularidade. Ao menos os melros, de vez em quando, dão um ar da sua graça. Mas hoje voltei a ver os gaios e as rolas. E voltou à memória um gaio falante que havia na vizinhança. Não era muito variado, o discurso. Limitava-se a chamar alto pelo Zé. E as rolas “rolando”, há tanto tempo as não ouvia em liberdade. E lembrei-me de ti, João. De como a infância passou demasiado depressa. Tão depressa, que nos impede de recordar os pormenores de cada dia. Até o gaio e a rola voltarem a aparecer. Livres. E aí, recordamos muita coisa. Quase tudo. A vida.