Uma das vantagens da racionalidade é podermos olhar para a mesma coisa a partir de vários pontos de vista. Como se olhássemos para uma ampulheta. Se olharmos tanto para a parte superior, ainda cheia das pequenas areias, como inferior, ainda vazia, vemos que o tempo é muito. Ou, pelo menos, algum. Depois, há aquele espaço entre tempos, por onde, com a cadência que tem de ser, vemos as areias passarem. Nem mais depressa, nem mais devagar do que tem de ser. O tempo é muito, quando temos saudades. O tempo é pouco, quando precisamos de fazer muita coisa. O tempo passa devagar, quando o contamos. O tempo passa depressa, quando não contamos com ele. O tempo foge. Nem mais depressa, nem mais devagar do que tem de ser. Quer o vejamos fugir, ou não.