9 de Maio de 2013 – Crónica em Discurso Directo: “Dar e Receber”

logo-ddDar e receber

 

Arouca recebe bem os visitantes. Aliás, Arouca recebe muito bem os visitantes. Mais concretamente, Arouca recebe, por vezes, demasiado bem os visitantes. O “slogan” não é forte. Não vende. Não é apelativo. Mas é verdadeiro. Não sabemos ser de outra forma. Gostamos de dar a conhecer, a provar, a experienciar o que de melhor temos. Gostamos de ser genuínos, de afirmar a nossa identidade. Gostamos de cultivar a amizade. E isso é bom. Isso é, de facto, óptimo. Desde que, entre dar e receber, exista um equilíbrio.

É curioso este quase paradoxo entre o “receber” de “acolher” e o “receber” de “trocar”, ainda mais quando, sabemos, está no ADN do bom cristão e honesto cidadão privilegiar o “dar” em vez do “receber”. E Arouca dá. Muito, e muito bom. Dá uma paisagem natural que muitos espaços classificados invejam. Dá, mesmo que não o valorizemos, uma qualidade de vida que dificilmente encontramos num centro urbano de média/grande dimensão. Dá uma gastronomia que, mesmo que não nos pareça diferenciadora, se destaca pela qualidade. E poderíamos continuar, pela doçaria conventual, pelo Mosteiro, pelos monumentos, pelos espaços urbanos cuidados. Em última análise, e porque o conceito é aglutinador, Arouca tem (ou melhor, é) um “Geopark”, e isso procura ser a marca identitária, o núcleo destes aspectos que nos diferenciam, para que sejam potenciados.

E foi, precisamente, por esse facto, pelo facto de Arouca, alegadamente, estar a fazer o “trabalho de casa”, que a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal convidou o Secretário de Estado do Turismo para visitar o território. Como sempre, Arouca recebeu bem. Recebeu, provavelmente, melhor do que alguma vez recebeu outra entidade semelhante. Arouca deu, nesses dias, tudo o que de melhor tinha, ao ponto de, em Vale de Cambra, o governante ter afirmado que o concelho vizinho devia olhar para o nosso exemplo.

O Secretário de Estado do Turismo, talvez sem querer, acabou por cair no erro crasso e habitual de quem visita Arouca e se encanta. Deixou que o encantamento ficasse dentro do “aquário” temporal em que esteve com os pés assentes no território. Quem tem responsabilidades na governação e visita Arouca sofre sempre do mesmo mal. As curvas e as agruras do caminho de regresso ajudam ao esquecimento rápido. Ajudam a esquecer que o caminho se faz caminhando. Mas sem nos ajudarem a ter um caminho melhor, de pouco servirá darem-nos como exemplo a quem está colado a nós. Porque mesmo sendo pior exemplo, terão sempre um caminho melhor para percorrer.

E nós, que damos tudo, continuamos a receber tão pouco. Ainda que recebamos quem nos visita (sempre) com o melhor de nós.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *