“Ouver” os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa não é propriamente uma “religião”, mas não deixou de ser curioso que o Professor hoje tocasse num assunto que já pairava nas reflexões pessoais há algum tempo. Queiramos ou não, gostemos ou não, o nosso sistema político assenta na representatividade dos partidos. São eles que, de base, procuram sustentar determinada forma de encarar a realidade e/ou de agir perante a dinâmica social. Sucede que, cada vez mais, estamos a ter de levar com partidos que não queremos, que nos impingem gente que não queremos, mas que, no fim de contas, é a gente que conta, e acabamos por ter de escolher os menos maus, que, ainda assim, são, francamente, muito maus. Confusões à parte, o que Marcelo disse hoje, a determinada altura, faz todo o sentido. Pedro Passos Coelho não pode esquecer que, se é Primeiro-Ministro, ao Partido Social-Democrata o deve. E, se lidera essa estrutura, uma estrutura que não tem, ao serviço dos portugueses, apenas os membros do Governo e deputados, mas presidentes de Câmara e de Junta de Freguesia, devia lembrar-se que essa gente, que o apoiou e apoia, que veste a mesma camisola que ele em termos partidários, já não consegue defendê-lo enquanto Primeiro-Ministro. Porque começa a ser demasiado duro ser-se português. Mas pior é ser-se, simultaneamente, português e militante do PSD. Eu já lho tinha escrito, mas de pouco serviu. Esperemos que o Primeiro-Ministro, ou o presidente do PSD, ou, de preferência, ambos, ouçam o professor Marcelo.
“O Primeiro-Ministro pensa que está na estratosfera a tratar dos problemas do país. (…) Pedro Passos Coelho Primeiro-Ministro não ‘passa cartão’ a Pedro Passos Coelho líder do PSD, porque [pensa que] essas coisas são [assunto] de mercearia. (…) Era bom que o Primeiro-Ministro e o líder do PSD conversassem, senão, um dia destes, pode ser tarde demais.”
(Marcelo Rebelo de Sousa, hoje, durante os seus comentários na TVI)