«E ao imenso e possível oceano/Ensinam estas Quinas, que aqui vês,/Que o mar com fim será grego ou romano:/O mar sem fim é português». Assim, Fernando Pessoa escreveu, e assim Amyr Klink tornou realidade. Vi, pela primeira vez, Amyr Klink num documentário da Globo, em casa de um grande amigo. Depois de contada a história, foi preciso ir descobrir esse velejador intrépido. E fui. A 31 de Outubro de 1998, Amyr lançou-se, sozinho, para uma viagem à volta do mundo. Trezentos e sessenta graus, à volta da Antártida, a começar nas águas calmas e quentes de Paraty, e passando pelos mares mais perigosos do planeta. O veleiro de Amyr, «Paratii», foi o companheiro de «armas», numa façanha pioneira. No fim, 141 dias no mar, um verão passado junto aos «icebergs», 18 mil milhas navegadas (mais de 12 mil sem pôr o pé em terra firme), uma passagem de ano no mar, em plena tempestade, paisagens que poucos terão tido o privilégio de ver. Tudo isto, Amyr Klink colocou em «Mar sem Fim», um livro, um diário de bordo, um exercício de poesia e coragem, ao mesmo tempo. Porque o mar sem fim é português.
«Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver».
(Amyr Klink , in «Mar sem Fim»)