A política, quando encarada de uma forma nobre (coisa rara, hoje em dia, dado o nível dos protagonistas), pode ser madrasta. Que o diga um reformado japonês, que arriscou o sonho de ser deputado. Arriscou. Arriscou tudo, e não foi eleito. E não só não foi eleito, como perdeu as economias que tinha posto de lado para o funeral. Ryokichi Kawashima, de 94 anos, investiu 36 mil dólares (cerca de 27 mil euros), tudo o que tinha, no seu sonho: uma candidatura à câmara baixa do Parlamento. Veterano da II Guerra Mundial, ousou sonhar, independentemente da idade e das condicionantes. Só que a política provoca, quase sempre, senão sempre mesmo, um fortíssimo embate com a realidade. Uma realidade que não se compadece com nobrezas, nem sonhos, nem vontade de mudar o mundo. Mesmo que seja quase aos 100 anos. Uma realidade na qual temos, apenas, de sobreviver.
“O meu avô dizia sempre que era uma vergonha estar agarrado ao dinheiro (…) É-me indiferente se morro numa floresta perto do monte Fuji e que regresse à terra. Participei nas eleições para me fazer ouvir e fazer ouvir a voz dos fracos, que é o que interessa”
(Ryokichi Kawashima)