Em 1998, resolvi perseguir uma espécie de um sonho. Juntamente com mais 99 “camaradas”, como é costume dizer-se na profissão que nunca tive, desci a Avenida da Boavista a pé, à procura da Escola Superior de Jornalismo. Ali passámos, todos, quatro anos à procura do âmago desse sonho. Aprendemos a modelá-lo de acordo com a realidade, e, à medida que nos aproximávamos do fim, começávamos a ter a clara noção de que talvez nunca fôssemos exercer a profissão que procurávamos conhecer melhor, quatro anos antes. Dizem-me jornalista, mas nunca o fui. Nunca tive carteira profissional. Nunca pertenci ao Sindicato (sim, para se ter carteira profissional, tem de se ser sindicalizado, o que é, no mínimo, estranho, mas é assim que funciona em Portugal). Nunca fui contratado por nenhum órgão de comunicação social. Conheço bem apenas a redacção da TSF Porto, porque ali pude fazer um estágio, onde aprendi, em poucos meses, muito mais do que é ser-se jornalista do que em muito dos quatro anos que me perdi entre livros e aulas. Tudo isto veio à memória ao ver o debate “Prós e Contras” da RTP, onde Fátima Campos Ferreira vai lançando debates frequentemente viciados pela sua excessiva interferência, interrupção e condicionamento. Mas o programa está assim formatado, assim o vemos. Fala-se sobre o futuro do jornalismo. Pois bem, para mim, o futuro do jornalismo é exactamente igual ao passado. Um meio com características muito próprias, onde só quem tem um instinto de sobrevivência muito apurado e alguma capacidade de encaixe consegue sobreviver. Tudo o resto, a crise, as dificuldades, as faltas de apoio, o desemprego, o crescente avanço da tecnologia, isso não é muito diferente do que se passa nos restantes sectores. É por isso que há sonhos. Porque são isso mesmo. Sonhos.