10 de Agosto de 2012 – Crónica de um Verão anunciado

Ele chega todos os anos, umas vezes mais de repente que outras, mas chega sempre. Quando chega, faz parar tudo. Traz o calor e com ele a falta de assunto. A música das pessoas que falam na rua é ligeiramente diferente, há carros com matrículas de outras cores, há gente que voltamos a ver, e que só (re)vemos nestes tempos. E o sol, inclemente, quando decide, retira-nos a pouca energia que resta, arrastando-nos para perto da água.

Com um calor assim, só podia ser notícia qualquer coisa que estivesse dentro de água, como os submarinos, trazendo à tona a nossa enorme capacidade de nos portarmos como baratas tontas, correndo em círculos aflitos, sem resolver nada. Como se estivéssemos tão preocupados em decidir o que levar, como levar e para que praia levar as malas térmicas com as refeições do dia. Só que, de tanto discutir e (não) decidir, o dia passa, e não fomos a lado nenhum.

Já nem os montes ardem como antes, ardem de forma muito mais desordenada e levando mais depressa a que se discuta sobre como se tentou remediar a situação do que a prevenir outras. Os incêndios já não são notícia, só os relatórios, os debates, o que se fez ou deixou de fazer para os resolver. No entanto, não se fala em limpeza, nem em outras espécies que não os malfadados eucaliptos, nem em caminhos novos que se rasguem, montanhas acima.

É tempo das festas, das romarias, de bailes animados por conjuntos, de procissões. De esplanadas, piscinas, ondas do mar, do correr do rio. Não é tempo de notícias, muito menos de crónicas. Para alguns, é tempo de voltar a tentar pôr a leitura em dia, para outros nem tanto, e é pena. Tal como este pedaço de papel impresso passará aos olhos de muitos como apenas isso, muitos livros e jornais ficam por ler.

Chegam os festivais de música, um pouco por todo o lado, com os que vêm e com os que cancelaram em cima da hora, com o campismo e a praia, com a cerveja e as operadoras de telemóveis. É Verão, sabemos. Temos os sintomas.

É Verão. Pensamos que bom seria se todo o ano fosse assim. Sem tempo contado. Sem preocupações alinhadas. Sem rotinas asfixiantes. Com uma relatividade tão saudável, que até irrita. Não perca mais tempo a ler crónicas como esta. Distraia-se, divirta-se. Boas férias.

Crónica escrita para publicação no Diário de Aveiro

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