Lê-se hoje, por aí, que a Associação Académica de Coimbra está preocupada com a forma como se deverá adequar a oferta de ensino superior ao mercado de trabalho. A dúvida é meritória, mas a fundamentação menos. Segundo se pode ler mais adiante, a «Académica» não quer que o país fique sem «pensadores» ou teóricos, e termina o comunicado por dizer que as necessidades do mercado estão desfasadas das necessidades do país. O raciocínio parece ligeiramente falacioso, quando o desemprego cresce exponencialmente entre os mais jovens e, em particular, os licenciados. O que a Universidade tem, de facto, de fazer é adequar-se ao que o «mercado» exige. Não podemos correr o risco de continuar a debitar desempregados para o mercado de trabalho, sem qualquer preparação prática para o que quer que seja. Mais do que pensadores, precisamos de «artistas», no sentido antigo do termo. De gente que mexe nas coisas, constrói, molda, produz. Porque, neste momento, estamos a formar gente que apenas sabe estudar. E mal. É nesse sentido que estas declarações são um verdadeiro remate ao poste.
«Preocupa-nos o discurso orientado para a adequação do Ensino Superior às necessidades do mercado. Não queremos um país sem filósofos, um país sem historiadores, sem pensadores. (…) O valor da formação não pode nunca medir-se pela sua taxa de empregabilidade, pois as necessidades do mercado estão longe de corresponder às necessidades reais do nosso país».
(Comunicado da Associação Académica de Coimbra)