De repente, a justiça, essa entidade alegadamente cega e independente, imparcial e ponderada, condenou um dos seus. Baltazar Garzón, que conseguiu condenar Augusto Pinochet, e que sempre foi um símbolo da justiça, não poderá voltar a ser juiz durante mais 11 anos (está impedido de exercer desde 2010), porque quis defender as vítimas do franquismo e porque quis investigar crimes corrupção de políticos do seu país. A justiça acha que o juiz abusou do seu poder de julgar. Talvez o desaparecimento de 114 mil pessoas, durante a ditadura e a guerra civil não mereça qualquer julgamento. Como talvez outros ditadores não devessem ter sido condenados. Como talvez os corruptos devam ser mantidos corruptos. Não se pode, aparentemente, ser justo. Corre-se o risco de se ser justo demais. E talvez isso seja crime.
«Tomei essas decisões porque considerei que eram as mais apropriadas, [guiado] pela defesa e pelo amparo às vítimas que são, neste tipo de crimes, o elemento principal que todo o juiz deve defender. (…) A minha consciência está tranquila».
(Baltasar Garzón, em sua defesa, perante o Tribunal)