7 de Agosto de 2011 – A crise, a Europa e nós

A ideia de que o capitalismo está, definitivamente, em crise não é nova. Tem, pelo menos, uma década, senão mais. As lições que a história nos foi dando, se bem estudadas, chegavam perfeitamente para, mesmo nessa altura, percebermos que «isto» era inevitável. O que não se previa (ou talvez até sim) era que chegaríamos a este ponto sem verdadeiras lideranças. Os «motores» da Europa (especialmente a Alemanha e França) terão, eventualmente, os piores líderes de sempre, e isso reflecte-se na qualidade do projecto europeu, na visão de futuro e na resposta eficaz aos desafios da crise. As notícias que nos chegam de Londres, de uma «criminalidade de reacção» que promete generalizar-se, são um sinal do que pode estar a caminho. Uma sociedade descontente, mas que não sabe o que quer, indignada, mas que não tem alternativa, farta, cansada e desgastada, mas sem qualquer noção de futuro. «A fogueira das vaidades», o célebre filme de Brian de Palma, baseado no livro de Tom Wolfe, explica bem o que a comunicação social pode fazer nestes casos (e faz). Mas, visto de um país que tem a (des)vantagem de andar algumas décadas atrasado em relação à Europa, convém usar esse atraso para reflectir. Sobre o futuro, sobre a crise, sobre estas reacções, sobre nós.

Europa querida Europa
(Fausto Bordalo Dias)

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Europa nascida na Ásia profunda
ó filha do rei fenício Agenor
que Zeus entranhado no corpo de um touro
levou-te p’ra Creta cativo de amor
Europa é de Homero
de helénicas formas
do fórum romano e da cruz
de tantas nações
ariana e semita
ventre das descobertas
da luz
do diverso sistema do modo diferente
da era da guerra e agora da paz
és assim querida Europa

vem que eu te quero toda do mar à montanha
vem que eu te quero muito mais bela que o mar
vem vencendo cizânias que os povos sem feudos
sempre se amaram brilhantes em todo o lugar
o teu chão não é traste
de meros mercados
de pauta aduaneira
ou cifrão
é um terrunho de almas
uma ideia
um desejo
de uma nova maneira
em fusão
desfazendo complexos de mapas cor-de-rosa
sem a má consciência no verso e na prosa
só por ti querida Europa

para que sejas tu mesma a decidir o teu uso
para que sejas tu mesma ainda mais natural
não me toques o “beat” à americana
que esse já nós conhecemos na versão original
aguenta-te firme
livre de imitações
espera só mais um pouco
já vai
o que resta e o que sobra
aquela mesma saudade
toda a imaginação
ainda mais
não sentes um vago um suave cheiro a sardinhas
a algazarra nas ruas e o troar dos tambores
somos nós querida Europa

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