Difícil de arrancar da memória a fabulosa reportagem de José Pedro Castanheira, na revista «Única», do «Expresso» de sábado passado. Pela escrita, sobretudo. Que nos transporta no tempo e para o local exacto em que tudo aconteceu. Com quem tudo aconteceu. Com quem viveu e sentiu tudo. Há 34 anos. Foi em Moatize, Moçambique. Primeiro, uma explosão numa mina. Depois, a chacina. Depois o silêncio cúmplice dos políticos portugueses e moçambicanos. A explosão matou 64 mineiros, mas os que ficaram, inebriados pelo fumo e pelo desejo reprimido de vingança, mataram, à pedrada e a golpes de picareta, nove responsáveis brancos, que pagaram, assim, com a vida, outras chacinas, outras mortes, outras vidas que não as suas ou dos seus. A guerra é a guerra, mas talvez não tivesse de ser assim. Só que foi.