20 de Julho de 2011 – Portugal: ensaio contra a autoflagelação

Boaventura de Sousa Santos resolveu reflectir sobre o nosso «nacional coitadismo». Somos (ou estamos) «coitadinhos» em parte porque queremos, em parte porque se nos impõe que assim estejamos. Hoje, não somos só Portugal. Para o bem e/ou para o mal, somos também Europa, e o bater de asas de uma borboleta no «Portugal Profundo» facilmente causa um espirro no «Reichstag» de Berlim. Mas há coisas que nos distinguem, e deveria ser nessas em que deveríamos estar concentrados, mais do que na autoflagelação. Temos uma história, uma identidade, uma forma própria de encarar e fazer as coisas. Basta querermos, com olhos de ver e cabeça de pensar, olhar para trás e pensarmos com esperteza sobre o que fomos, como fomos, o que fizemos, como fizemos e como chegámos aqui. Sem autoflagelação a mais. Porque, senão, a certa altura, podemos já não ter corpo para autoflagelar. E aí, talvez seja tarde demais.

«A autoflagelação é a má consciência da passividade, e não é fácil superá-la num contexto em que a passividade, quando não é querida, é imposta. Estamos a ser agidos.

No capítulo 1, faço breves precisões conceituais sobre as crises e suas soluções. No capítulo 2, apresento uma reconstrução histórica de algumas contas mal feitas na nossa vida colectiva e nas nossas relações com a Europa. No capítulo 3, analiso o possível impacto das medidas de austeridade recessiva na vida dos portugueses. No capítulo 4, proponho algumas medidas para sairmos da crise com dignidade e com esperança, tanto medidas de curto prazo como medidas de médio prazo. No capítulo 5, centro-me nos desafios que se levantam às soluções que só fazem sentido se adoptadas a nível europeu e mundial. O maior desses desafios é travar e se possível inverter a preocupante proliferação do que designo por fascismo social. No capítulo 6, defendo a necessidade e a possibilidade de um outro projecto europeu mais inclusivo e solidário. Finalmente no capítulo 7, defendo que a outra Europa possível só se concretizará na medida em que ela for capaz de partilhar os desafios da luta por um outro mundo muitíssimo mais vasto, mas, tal como ela, possível e urgente».

(Boaventura de Sousa Santos, «Portugal: Ensaio contra a autoflagelação»)

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