Agora que o Governo está em gestão, talvez fosse boa ideia aproveitar o lanço para, da mesma forma que se revoga a avaliação dos professores e o alargamento das possibilidades de ajustes directos aos políticos, revogar-se o famigerado (des)acordo ortográfico. Este assunto, fundamental para a nossa cultura e para a nossa identidade, tem sido (talvez propositadamente) esquecido. Não se trata de qualquer hostilidade face aos nossos irmãos brasileiros. Trata-se, isso sim, de afirmar a verdadeira língua portuguesa. E essa, não é a que o (des)acordo pretende implementar, por decreto e contra-natura. As nossas palavras são assim, porque têm uma determinada raiz, no latim ou no grego, por exemplo, e isso não se muda por decreto, nem por provincianismo nem com base numa falsa ideia de internacionalidade. Este (des)acordo é, claramente, estranho para com a forma como falamos a nossa própria língua. Não tem em conta que se fala português em Angola, em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, em São Tomé e até em Timor. Não tem em conta a forma como pronunciamos, a musicalidade portuguesa, e acaba por instalar uma perigosa confusão na ortografia. Há estudos que comprovam que algumas palavras podem escrever-se de quatro a trinta e duas maneiras diferentes, todas válidas. Mas ainda há uma esperança, que o silêncio sobre o assunto nos deixa. Tratando-se de um acordo internacional, a sua entrada em vigor depende do acordo de todos os países que o subscrevem, o que não sabemos se já aconteceu. Ainda há esperança.